1.1. Introdução
Quais diferenças de comportamento apresentam um objeto de material inorgânico, como o metal, e outro de madeira – material orgânico, heterogêneo, poroso, higroscópico e anisotrópico (ANDRADE, 2024) – ao serem transportados para regiões com condições climáticas distintas daquelas onde foram fabricados?
Foi com a elaboração dessa pergunta que se iniciou o semestre de Propriedades Físicas da Madeira, para estudantes de Engenharia Florestal na Amazônia, 2025, na Universidade Federal do Oeste do Pará, localizada na região equatorial, caracterizada por clima quente, alta umidade e baixa amplitude térmica sazonal.
Afinal, engenheiros florestais trabalharão com florestas e madeira e precisam compreender como diferentes espécies absorvem e liberam água, ajustando sua umidade ao ambiente, assim como a relação desses fatores com a densidade, anisotropia e retratibilidade do material.
Além de avaliar se a madeira está suficientemente seca para ser utilizada sem risco de defeitos, como inchamento e rachaduras, ou biodeterioração, é necessário considerar as condições do ambiente onde será aplicada – seja na própria Amazônia ou em locais distantes, onde a umidade relativa e a temperatura podem ser bem diferentes.
1.2. Higroscopicidade e Variações Dimensionais
A madeira é um material higroscópico, ou seja, interage com a umidade do ambiente, absorvendo ou perdendo água conforme a temperatura e a umidade relativa do ar. Esse processo contínuo afeta suas dimensões – comprimento (1D), área (2D) e volume (3D) – e suas propriedades mecânicas como a resistência, quanto mais úmida, menor a resistência mecânica, e dureza, quanto mais úmida, menos dura (ANDRADE, 2024; AGUIAR, 2007).
Em outras palavras, é a interação água-madeira que determina o “trabalho” da madeira em resposta às variações na umidade relativa, resultando em fenômenos como retração inicial da madeira na condição verde; maior susceptibilidade à biodeterioração; inchamento – afastamento das microfibrilas pelo ganho de moléculas de água; retração – aproximação das microfibrilas pela perda de moléculas de água.
Para calcular a porcentagem de umidade na madeira, é necessário saber o valor de:
- Massa seca (ms) → Massa da madeira quando toda a água foi removida (condição anidra);
- Massa úmida (mu) → Massa da madeira contendo toda a umidade presente em suas cavidades e células no momento da medição.

Como engenheiros, aprende-se a conduzir esse processo de perda de umidade (secagem abaixo de 20%) para melhorar a qualidade do material, suavizar seu comportamento e reduzir o risco de entortamentos e outros defeitos. Além disso, a secagem adequada diminui a vulnerabilidade da madeira ao ataque de fungos apodrecedores, que prosperam em temperaturas entre 25-30°C e umidade entre 35-50% (ANDRADE, 2024).
1.3. Tipos de água na madeira
A água na madeira pode ser encontrada no lúmen das células (conhecida como água livre ou capilar) e aumenta a susceptibilidade da madeira à biodeterioração, além de afetar sua densidade aparente. Essa fração representa cerca de 70% da água presente na madeira.
Já a água aderida à parede celular (conhecida como água higroscópica) está associada aos grupos hidroxilas livres e acessíveis da hemicelulose (majoritariamente, por possuir mais sítios de sorção), além das regiões amorfas da celulose e da lignina. Sempre por meio de ligações de hidrogênio entre as hidroxilas livres na superfície das microfibrilas (cerca de 1/3 das hidroxilas) e as moléculas polares de água, o que faz com que a remoção dessa água exija a quebra de ligações de hidrogênio, um processo que demanda energia (ANDRADE, 2024).
A madeira verde ou recém-cortada tem os dois tipos de água: livre e higroscópica e está saturada com água, portanto, acima do Ponto de Saturação das Fibras (PSF), que é definido como limite entre a perda de água livre e a perda de água higroscópica. Quando a madeira seca acima do PSF, a água líquida dentro dos lúmens se move por fluxo capilar. A remoção dessa água não altera as dimensões da madeira, pois ela apenas preenchia espaços vazios, mas o volume permanece constante. No entanto, a parede celular ainda permanece saturada, contendo cerca de 28% de água.
Essa umidade remanescente está presente na parede celular ligada às moléculas de hemicelulose, celulose e lignina por pontes de hidrogênio. Para essa água ser removida, as moléculas de água precisam quebrar essas ligações e se transformar em vapor antes de difundir para o ambiente. Esse processo ocorre de dentro para fora da parede celular por difusão de vapor, pois não há mais água líquida para se mover livremente dentro dos lúmens.
À medida que a água higroscópica começa a ser eliminada, ocorre o desinchamento da parede celular, resultando em uma redução de volume (ANDRADE, 2024). Esse processo causa uma retração dimensional que varia entre 4% e 8%, dependendo da espécie. A madeira seca está abaixo do ponto de saturação das fibras e por isso tem mais estabilidade dimensional.
1.4. Tipos de secagem
Para cada tipo de água presente na madeira, há um método de secagem adequado. A partir do corte da madeira, já se inicia um processo natural de secagem, principalmente pela difusão da água capilar do interior para o exterior da peça (seguindo o gradiente de umidade), seguida pela evaporação da umidade pela superfície, ou seja, um fluxo de dentro para fora (ANDRADE, 2024).
Para usos comerciais, é necessário realizar uma secagem controlada abaixo do Ponto de Saturação das Fibras (PSF), ou seja, quando a madeira já perdeu toda a água capilar e contém apenas água higroscópica. Nesse estágio, a difusão da umidade do interior da peça para a superfície precisa ocorrer em um ritmo adequado para acompanhar a evaporação pela superfície externa.
Caso haja um descompasso elevado entre esses dois processos (difusão e evaporação da umidade da madeira), surgem tensões internas, que resultam em defeitos estruturais. A secagem controlada minimiza esses problemas ao limitar as diferenças entre difusão e evaporação, evitando o surgimento de empenamento, encanoamento e rachaduras do tipo estrela na direção do raio, que podem comprometer a integridade e o aproveitamento da peça.
A umidade final da madeira varia conforme sua aplicação comercial:
Madeira serrada comercial → 16‒20%
Construção externa → 12‒18%
Painéis → 6‒8%
Pisos, móveis de interiores, brinquedos internos → 6‒10%
Equipamentos musicais e elétricos → 5‒8%
Como essa secagem ocorre abaixo do Ponto de Saturação das Fibras (PSF), a perda de umidade se dá pela difusão de vapor através da parede celular, pois não há mais água líquida livre nos lúmens. Esse processo resulta em variação da massa e do volume da madeira (logo afetando sua densidade aparente, que será visto a seguir). Assim, a madeira sofre retração e mudanças nas propriedades físicas e mecânicas (ANDRADE, 2024).
1.5 Equilíbrio higroscópico da madeira
A madeira encontra seu ponto de equilíbrio higroscópico quando está com umidade entre 0% e o Ponto de Saturação das Fibras (PSF), um valor que varia conforme as condições ambientais. O PSF não é um valor fixo, mas uma faixa entre 25‒30%, sendo influenciado pelo teor de extrativos da madeira (ANDRADE, 2024).
Quando a Umidade Relativa do Ar (URA) é alta, a madeira absorve umidade do ambiente, elevando seu teor de água até atingir um novo ponto de equilíbrio. Já quando a URA é baixa, a madeira perde umidade para o ambiente, reduzindo seu teor de água até encontrar um novo equilíbrio.
Esse processo ocorre continuamente, acompanhando as oscilações da umidade relativa do ar, o que impacta diretamente as dimensões da madeira (inchamento e contração), sua densidade aparente e até sua resistência mecânica. Como a densidade é determinada pela razão entre a massa da amostra de madeira e o volume que ela ocupa no espaço, qualquer variação na umidade afeta a relação massa-volume, alterando suas propriedades físicas e estruturais.
1.6 Densidade
Qual madeira escolher para cada uso? A densidade é um dos principais critérios na seleção do material adequado para cada aplicação, sendo uma variável fundamental. Madeiras de maior densidade geralmente apresentam mais tiloses – estruturas que reduzem a permeabilidade – e um teor mais elevado de extrativos, como resinas, óleos e taninos, que influenciam a cor, durabilidade e resistência da madeira.
Madeiras de alta densidade são mais resistentes e duráveis, tornando-se ideais para construção civil e aplicações estruturais. Madeiras de menor densidade são preferidas para a produção de celulose e painéis, pois são mais fáceis de compactar e processar.
A densidade da madeira desempenha um papel fundamental em diversas aplicações:
- Comparação entre espécies e avaliação da qualidade da madeira
- Estoque de carbono em florestas → Permite estimar a quantidade de biomassa por hectare;
- Indústrias de celulose e papel → Influencia o rendimento e a qualidade da polpa extraída;
- Processos industriais → Afeta a usinagem (aplainamento, lixamento, serragem) e a produção de painéis;
- Secagem da madeira → Madeiras mais densas exigem maior gasto energético no processo de secagem;
- Transporte e logística → Impacta o peso da carga e os custos logísticos.
Porosidade e massa específica
A porosidade é um fator determinante na absorção de umidade, na permeabilidade e no comportamento mecânico da madeira. Quanto maior a porosidade, menor a densidade, pois há mais espaços vazios dentro da estrutura celular da madeira. Madeiras de alta densidade possuem menor porosidade, o que resulta em maior resistência mecânica, maior massa por unidade de volume e menor absorção de umidade. Já madeiras menos densas são mais porosas, o que as torna mais leves, mais fáceis de trabalhar (usinagem, lixamento e colagem), mas também mais suscetíveis à variação dimensional com mudanças de umidade. Para calcular a porosidade de uma madeira, divide-se sua densidade aparente pela massa específica.

A massa específica da substância madeira tem um valor médio próximo de 1,5 g/cm³, independentemente da espécie, pois a composição química da madeira (celulose, hemicelulose e lignina) tem propriedades relativamente constantes.
1.6.1 Métodos para determinar a densidade
No Brasil, existem duas normas principais para a determinação da densidade da madeira:
- ABNT NBR 7190/1997 → Utiliza corpos de prova padronizados para ensaios estruturais;
- ABNT NBR 11941/2003 → Utiliza discos e cavacos para determinação da densidade.
Método do paquímetro ou do micrômetro para corpos de prova prismáticos (estereométrico):
A densidade (ρ) pode ser determinada em diferentes estados de umidade da madeira, sendo o volume calculado pelo método estereométrico, que utiliza as dimensões geométricas dos corpos-de-prova perfeitamente orientados.
Esse método, apesar de prático, possui menor precisão, pois pequenas variações na medição das dimensões podem gerar erros significativos no cálculo da densidade. Para maior exatidão na determinação do volume, pode-se utilizar o Princípio de Arquimedes (método de imersão), no qual os corpos de prova são imersos em um frasco com água, e o volume deslocado equivale ao volume real da amostra.
Para medições da massa de corpos de prova prismáticos, é necessário o uso de uma balança de precisão de 0,01 g, garantindo maior acurácia nos cálculos.
Para determinar a densidade aparente (ρap), calcula-se a razão entre a massa (composta pela substância madeira, extrativos específicos de cada espécie e sua umidade) e o volume tridimensional da madeira, a 12% de umidade (padrão europeu), pois reflete de forma prática a realidade da madeira em uso comercial:

A densidade anidra refere-se à densidade da madeira a 0% de umidade:

Já a densidade básica — amplamente utilizada em pesquisas e cálculos teóricos — é obtida pela razão entre a massa seca e o volume saturado da madeira:

Método pelo máximo teor de umidade para discos e cavacos:
Esse método é utilizado quando trabalhamos com pequenos fragmentos de madeira, como cavacos, serragem ou até pequenos discos, onde a medição direta do volume é inviável. Como não é possível medir o volume exato dos cavacos com precisão, utilizamos essa fórmula empírica baseada no máximo teor de umidade da madeira.

Método da microdensitometria de Raio-X
Há também a microdensitometria de Raio-X, uma técnica que permite visualizar a variação da densidade da madeira ao longo do crescimento do anel anual. O método gera um gráfico onde se observam picos de densidade no lenho tardio e menores densidades no lenho primaveril. Além de possibilitar o cálculo da densidade média da madeira, essa análise também permite estimar a idade da árvore, estudar padrões de crescimento e avaliar fatores ambientais que influenciaram seu desenvolvimento.Há também a microdensitometria de Raio-X, uma técnica que permite visualizar a variação da densidade da madeira ao longo do crescimento do anel anual. O método gera um gráfico onde se observam picos de densidade no lenho tardio e menores densidades no lenho primaveril. Além de possibilitar o cálculo da densidade média da madeira, essa análise também permite estimar a idade da árvore, estudar padrões de crescimento e avaliar fatores ambientais que influenciaram seu desenvolvimento.
1.6.2 Fatores que influenciam na densidade
A variação da densidade da madeira ocorre em diferentes escalas e está relacionada a fatores anatômicos, químicos e ambientais:
- Entre espécies → Depende de diferenças anatômicas (arranjo dos tecidos, presença de tiloses, tamanho e distribuição dos poros) e químicas (teor de extrativos, composição da parede celular);
- Exemplo, células com parede celular mais espessa (lenho tardio), tem densidade maior; células com diâmetro do lumem maior são menos densas.
- Dentro da mesma espécie → Influenciada por idade da árvore, condições do solo, taxa de crescimento e potencial genético.
- Dentro de uma mesma árvore → Apresenta variação tanto no sentido longitudinal (da base até a copa) quanto no sentido radial (do cerne para o alburno).
Quanto maior a umidade de equilíbrio, maior será a densidade aparente, pois a água adsorvida na parede celular contribui para o aumento da massa sem alterar o volume total da peça.
A variação no sentido medula-casca afeta a densidade da madeira devido às diferenças estruturais entre lenho juvenil e lenho adulto, bem como entre cerne e alburno. Em geral, a densidade é menor próximo à medula (onde se encontra a madeira juvenil) e aumenta progressivamente à medida que a madeira se torna adulta. Esse processo não está relacionado à idade cronológica da árvore, mas sim às mudanças no crescimento e diferenciação celular ao longo do tempo.
A posição no fuste afeta a densidade da madeira devido às variações estruturais ao longo do crescimento da árvore. No sentido longitudinal (base → topo), a densidade geralmente é maior na base diminui no DAP e aumenta na copa. Isso pode acontecer porque a madeira da base é mais antiga, possui maior deposição de lignina e extrativos, e suporta maior carga mecânica. Já no sentido radial (medula → casca), a densidade aumenta, pois a madeira juvenil, próxima à medula, apresenta células mais alongadas, paredes celulares mais finas e maior proporção de lumens, enquanto a madeira adulta possui paredes celulares mais espessas e menor permeabilidade. Além disso, a densidade do cerne tende a ser maior do que a do alburno, devido à maior concentração de extrativos e menor teor de umidade.
A densidade varia com influencias externas, em sítios com ou sem stress hídrico por exemplo, a proporção entre lenho inicial e lenho tardio pode se alterar. Em regiões com estresse hídrico, o crescimento da árvore pode ser mais lento, resultando em lenho tardio mais espesso e denso, enquanto em condições de maior disponibilidade de água, o lenho inicial tende a ser mais abundante e com menor densidade. Essas variações impactam diretamente as propriedades físicas e mecânicas da madeira, influenciando seu uso final.
1.7 Retratibilidade
A contração volumétrica tem uma fórmula parecida com a da umidade, mas é com volume:

1.7.1 Movimentação dimensional da madeira
A madeira é um material anisotrópico, ou seja, suas propriedades físicas variam conforme a direção ou orientação da grã. Por isso, é possível identificar diferenças dimensionais (volume, área e comprimento) dependendo dos eixos anatômicos da madeira: tangencial, radial e longitudinal. Compreender essas variações permite analisar as proporções entre os eixos e o comportamento dimensional da madeira, essencial para aplicações estruturais e processos de secagem.
Esse comportamento pode ser diferente dependendo da peça. Se uma peça de madeira tem maior comprimento tangencial, o comportamento nesse eixo será determinante para a estabilidade da peça. O mesmo ocorre no sentido longitudinal. Já o comportamento volumétrico da madeira resulta da combinação das contrações nos três eixos anatômicos.
A maioria dos defeitos na madeira está relacionada a esse comportamento anisotrópico, pois toda vez que a umidade entra ou sai da estrutura celular, ocorre inchamento ou retração, gerando tensões internas que, ao longo do tempo, resultam em defeitos como rachaduras, empenamentos e torções.
Esses processos ocorrem lentamente, pois a permeabilidade da madeira limita a difusão de umidade. Quando as moléculas de água entram na madeira, elas interagem com os polímeros da parede celular, causando seu inchamento. O inverso ocorre durante a secagem, quando a saída da água provoca a aproximação das microfibrilas, resultando em retração.
Como o núcleo da celulose é altamente cristalino, a maioria das mudanças dimensionais ocorre no nível das microfibrilas na camada S2 da parede celular secundária, onde as microfibrilas possuem ângulos entre 10° e 30° em relação ao eixo da fibra. Esse arranjo afeta principalmente as dimensões na direção transversal, ou seja, nos eixos tangencial e radial. Isso significa que a madeira incha mais transversalmente do que longitudinalmente, pois a orientação cristalina das cadeias de celulose restringe a variação no comprimento da fibra. Dessa forma, a contração e o inchamento ocorrem de maneira mais intensa na direção tangencial, seguidos da radial, e sendo mínimos no sentido longitudinal.
O limite da anisotropia e da movimentação dimensional da madeira ocorre até o Ponto de Saturação das Fibras (PSF), quando a madeira está completamente saturada. Acima do PSF, a madeira não apresenta mais inchamento, pois toda a água adicional passa a ser água livre, preenchendo os espaços do lúmen das células, sem interferir na estrutura da parede celular e, consequentemente, sem alterar o volume da madeira.
1.7.2 Anisotropia e Movimento anisotrópico da madeira
A água que nos interessa no estudo das variações dimensionais da madeira é a água higroscópica, presente na parede celular, o que significa que essas mudanças ocorrem somente entre 0% e o Ponto de Saturação das Fibras (PSF), aproximadamente 25-30% de umidade. Além disso, a variação tangencial é, aproximadamente, duas vezes maior que a variação radial, devido à diferença na estrutura anatômica e no arranjo das células da madeira.
No nível da parede celular, o processo de adsorção e dessorção de água provoca mudanças dimensionais na madeira. A maior variação ocorre na direção transversal (tangencial e radial) e não na longitudinal, devido à orientação das microfibrilas na camada S2 da parede celular secundária. Como as microfibrilas estão dispostas em ângulos de 10° a 30° em relação ao eixo da fibra, a expansão ou contração acontece predominantemente perpendicularmente ao comprimento da célula, resultando em maior inchamento e retração transversal, enquanto a variação na direção longitudinal é mínima.
Os principais fatores que explicam a diferença entre a variação tangencial e radial da madeira, que ocorre na proporção aproximada de 2:1, são:
- Restrição dos raios medulares → Como os raios estão dispostos perpendicularmente aos anéis de crescimento na direção radial, eles limitam o inchaço e a contração nesse eixo, proporcionando maior estabilidade dimensional à madeira;
- Número de pontoações na parede radial das fibras → A maior quantidade de pontoações na parede radial permite maior passagem de água, influenciando a capacidade de movimentação da madeira nesse eixo.
- Diferença na espessura da lamela média → A lamela média é mais espessa no plano radial do que no plano tangencial, o que reduz a deformação radial.
- Grau de lignificação → As paredes tangenciais possuem maior teor de lignina, tornando-as mais rígidas e, consequentemente, mais propensas à contração do que as paredes radiais.
- Diferenças no ângulo microfibrilar (AMF) → O ângulo das microfibrilas na parede tangencial tende a ser maior, o que limita a contração tangencial.
- Alternância de Lenho Inicial (LI) e Lenho Tardio (LT) no plano radial → O LI e o LT apresentam diferentes densidades e resistências mecânicas, agindo de forma alternada no sentido radial. Como o LI tem paredes celulares mais finas e maior volume de lúmens, sua contração é maior, enquanto o LT, mais denso e com paredes espessas, resiste mais à variação dimensional. Esse efeito pode ocorrer de forma série ou paralela, dependendo da espécie e da forma como os anéis de crescimento se organizam na madeira.
Esses fatores combinados fazem com que a contração e o inchamento tangencial sejam aproximadamente o dobro dos radiais, influenciando diretamente a estabilidade dimensional da madeira e sua comportabilidade em processos como secagem e usinagem.
Quanto maior a diferença entre a contração tangencial e radial – expressa pelo coeficiente anisotrópico – menor será a estabilidade dimensional da madeira. Essa variação entre espécies ocorre devido a diferenças na estrutura anatômica e química da madeira, influenciadas por fatores como tipo de lenho (lenho inicial e lenho tardio), massa específica e teor de extrativos. A contração radial tende a aumentar com a massa específica e com o percentual de lenho tardio, pois esse tipo de lenho possui paredes celulares mais espessas e menos lumens, o que resulta em menor permeabilidade à umidade e maior retração. Já a contração tangencial é influenciada por múltiplos fatores, incluindo a largura do anel de crescimento, a massa específica, o percentual de lenho tardio e a quantidade de extrativos. Madeiras com anéis de crescimento largos, por exemplo, apresentam maior variação tangencial, pois há maior proporção de lenho inicial, que se retrai mais intensamente. Além disso, a presença de extrativos pode afetar a higroscopicidade da madeira, reduzindo sua contração ao dificultar a absorção e liberação de água.
Contração volumétrica
A contração volumétrica da madeira possui alta correlação com a umidade e a massa específica, pois ambos influenciam a quantidade de água adsorvida na parede celular. O inchaço máximo ocorre quando a madeira atinge o Ponto de Saturação das Fibras (PSF), adotado em média como 28% de umidade, embora esse valor possa variar entre 25-30% dependendo da espécie e dos extrativos. Esse inchaço pode ser estimado pelo produto da densidade anidra pela umidade no PSF, refletindo a capacidade máxima da madeira de reter água na parede celular antes que a umidade adicional passe a ocupar os lúmens celulares sem alterar seu volume.
1.7.3 Medindo a variação dimensional da madeira
A diminuição dimensional (%) do estado verde (maior dimensão, estado saturado) para o seco em estufa (menor dimensão).
Método do paquímetro ou do micrômetro para corpos de prova prismáticos (estereométrico):
Assim como a densidade (ρ) pode ser determinada em diferentes estados de umidade da madeira, a variação volumétrica também pode ser feita pelo método estereométrico, que utiliza as dimensões geométricas dos corpos-de-prova perfeitamente orientados (como o angulo microfibrilar tem um efeito muito grande, esse fator previne erros).

O coeficiente de variação volumétrica também pode ser calculado pela soma dos coeficientes de variação dos sentids tg, rd e lg, em um corpo de prova corretamente orientado.
αvol = αtg+ αrd+ αlg
βvol = βtg+ βrd+ βlg
Quanto a madeira varia a cada 1% de alteração na umidade (Q), coeficiente de variação dimensional

Qual a dimensão dessa madeira quando ela tiver a umidade x%?

Bibliografia
Videoaulas:
ANDRADE, F. W. C. O que são propriedades físicas da madeira? Playlist: Propriedades Físicas da Madeira – Vídeo 1 de 5, com duração de 4”40’. Publicado como não-listado no canal Fernando Andrade, no Youtube, 11/2024. Disponível em: https://youtu.be/rQ4TIjbzpY0?si=z82E-rw6vUnjuplz. Acesso em: 14 fev. 2025.
ANDRADE, F. W. C. Tipos de água na madeira. Playlist: Propriedades Físicas da Madeira – Vídeo 2 de 5, com duração de 28”02’. Publicado como não-listado no canal Fernando Andrade, no Youtube, 11/2024. Disponível em: https://youtu.be/tbsXitrq9kU?si=widhG6WO-zc0ZNFN. Acesso em: 14 fev. 2025.
ANDRADE, F. W. C. Como a água se liga à madeira. Playlist: Propriedades Físicas da Madeira – Vídeo 3 de 5, com duração de 17”18’. Publicado como não-listado no canal Fernando Andrade, no Youtube, 11/2024. Disponível em:https://youtu.be/brJHqSsiVOI?si=wWn8in7UBqs-xuu2. Acesso em: 14 fev. 2025.
ANDRADE, F. W. C. Relação água, madeira e secagem. Playlist: Propriedades Físicas da Madeira – Vídeo 4 de 5, com duração de 12”12’. Publicado como não-listado no canal Fernando Andrade, no Youtube, 11/2024. Disponível em:https://youtu.be/Uw9TbR_Hexw?si=57L4I4Loqmbu0lP9. Acesso em: 14 fev. 2025.
ANDRADE, F. W. C. Como a madeira seca. Playlist: Propriedades Físicas da Madeira – Vídeo 5 de 5, com duração de 32”27’. Publicado como não-listado no canal Fernando Andrade, no Youtube, 11/2024. Disponível em:https://youtu.be/_uI0oj01vJQ?si=phNc80cIX6i6sSkA. Acesso em: 14 fev. 2025.
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